quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Minhas vidas descritas numa folha de palmeira

Talvez eu não tenha sido muito clara e detalhista sobre o quanto a Mãe Índia, o quanto Amma me recebeu e me acolheu!
Então segue mais um relato.
Eu tinha ouvido falar na aula de astrologia sobre Astrologia Nadi, um tipo de horóscopo do Sul da Índia.
Para saber um pouquinho mais sobre Astrologia Nadi, clique aqui.
E lá fui eu perguntando, perguntando sempre, o que já é um hábito. Essa curiosidade que me ajuda, mas que também já me causou problemas como vocês verão no final. Eis que um amigo indiano do ashram me disse que conhecia sim esta astrologia e não apenas isso, conhecia também um astrólogo nadi e com ele se consultava há muito tempo.
Pedi se eu poderia vê-lo, pensava apenas em encontrar com um astrólogo assim, pois sabia o quanto era difícil encontrar sua folha, já que há anos elas haviam sido separadas. E lá fomo nós, 3 horas de viagem do ashram até a casa deste rapaz, que deve ter uns 35 anos, herdou a "profissão" do pai, que por sua vez havia herdado do pai e que já está preparando o filho mais velho para segui-lo.
Para minha supresa, lá estava minha folha! E nem foi tão difícil de encontrar. Alguns dirão: Ah! mas você tem certeza, pode ser fruto da sua imaginação! Bem, no nível de detalhe que o rapaz conta sua história, é difícil se deixar levar pela imaginação.
O astrólogo só fala malaialo e meu amigo indiano traduzia. Ele falou detalhes como: número de casamentos, filhos, profissão, nomes dos filhos nesta vida, nome dos filhos na vida passada, guru, jyotish. Muitas informações precisas demais para serem "inventadas" ou "captadas" imediatamente, principalmente por alguém que nem fala um idioma em comum.
Na verdade o astrólogo não fala. Ele abre a folha e lê!
A grande resposta que tive foi sobre meu ciclo de vidas na Índia, pois eu tinha certeza naquela altura que já tinha vivido ali. Não apenas na Índia, mas naquele pedaço de país.
O astrólogo descreveu em detalhes meu ciclo de vidas na Índia, o que me fez "abandonar" as pessoas, porque fui embora.
Descreveu o lugar, o nome da família a quem eu pertencia e me sugeriu fortemente ir visitar o palácio, dizendo que ao voltar lá as memórias seriam retomadas e isso seria muito bom para minha vida atual. Fiquei muito curiosa e também cheia de medo. Que memórias eu teria reavivada?
A consulta se encerra num determinado momento, sem qualquer possibilidade de saber mais. Perguntei se era só isso e o astrólogo disse: volte daqui a 6 meses!
E lá fomos nós, dias depois, visitar o Padmanabhapuram Palace - Kerala.
Muita brincadeira e gozação já havia sido feita com o que já chamávamos de "meu palácio".
Chegamos atrasados ao palácio, que hoje é aberto à visitação, faltando apenas 5 minutos para fechar as portas. Desci correndo do carro para pedir ao rapaz responsável para me deixar entrar e quando cheguei bem perto da porta - blum! A porta se fechou e eu fiquei ali do lado de fora!
O que se passou então comigo é bastante pessoal, mas em 10 segundos consegui entender "buracos" de rejeição que sempre me acompanharam!
Entendi imediatamente o que o astrólogo havia relatado: eu, atraída pelo estrangeiro que chegava à Índia, abandonei meu lugar e minhas responsabilidades, fui ao "mundo" como ele havia dito. Ao que parece voltei e a porta se fechou para mim.
O astrólogo havia dito também que esta curiosidade de 'ver o mundo' havia me afastado das vidas na Índia e havia criado muitos problemas....rsrsrs
A mesma curiosidade que me tirou dali me levou de volta!
Agora é esperar pela próxima consulta, se ela acontecer!
Impossível não se sentir "em casa" com tanta acolhida!
Meu período no ashram se misturou com todos esses lindos presentes e também muita mexida, muito medo, muito questionamento e também muito amor!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A entrega

As palavras que mais escutei durante os satsangs, durante o período em que estive na Índia foram: entrega (surrender) e ficar no aqui e agora. Quero fazer duas considerações sobre o tema da entrega. Em inglês, surrender não é apenas entregar-se. Significa também renunciar, ceder, abandonar, abandonar-se...
Quais desses significados me toca? O que quer dizer de forma prática entregar-se? Por que tive tanto medo de me perder durante o mês em que estive também tão feliz?
Registro frases soltas que me passavam pela cabeça estando lá e que continuam vagando por aqui também.
"Não há volta na entrega."
"Posso me perder e nunca mais me encontrar."
"E se eu mais uma vez me decepcionar?"
O que revelam essas frases? Ainda uma grande necessidade de controle. Mas controlar o que? Há muito percebi que a melhor postura é perceber o fluxo e segui-lo. Isso sim é ser inteligente. Então, o que eu poderia "perder" me entregando ao meu guru?
Mas eu sei o que é entregar-se (surrender) a um guru?
Alguém sabe? Quer me ajudar a refletir?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Uma semana....que saudades é essa?

Hoje faz uma semana que saí da Índia, de volta para o Brasil. Fico feliz em estar aqui, mas parte de mim quer apenas voltar. Não é apenas uma saudade, é uma grande parte de mim quer apenas voltar, quer viver no ashram, quer voltar a sentir-se em casa, pois foi assim que me senti na Índia - em casa. Uma sensação de estar em casa que nunca tive antes.
Isso não está diretamente ligado a estar fisicamente perto da Amma o tempo todo, mas sim em estar ali naquele lugar e, principalmente, em viver uma vida voltada à adoração do meu guru. Sei que essa afirmação anterior poderá parecer até doentia a algumas pessoas que desconhecem a relação entre um discípulo e seu mestre espiritual e vou tentar colocar como vejo as coisas:

- um mestre espiritual encarnado, um satguru realizado, é alguém que conhece o caminho até Deus e que faz o caminho de volta, que assume uma vida neste planeta para indicar o caminho às pessoas. Encontrar seu mestre é o maior presente que um ser humano pode receber de Deus, pois é uma indicação de Deus para o caminho. Como o mestre é este presente de Deus, para o discípulo o mestre/guru é a própria representação de Deus e entregando-se ao guru, adorando ao guru, se está adorando a Deus.
Então, Deus, no alto de sua magnânima e infinita bondade, dá aos seres humanos uma visão de uma de suas infinitas formas através da forma física do guru, para que possamos nos aproximar cada vez mais dele.
Mas por enquanto, acho que acabei de entender, Deus/Amma quer que eu fique mesmo nesta cidade maravilhosa e me empenhe em ver Deus/Amma em todos os seres - Isso não é tão difícil de fazer com a natureza desta cidade, que é simplesmente maravilhosa. Basta chegar na esquina, olhar para o Corcovado e lá vou eu embarcada na beleza!
Amma, olhe por mim.... por favor, puxe o fio que nos une....essa já é uma outra história...rsrsrsrs

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O que é espiritualidade, o que é ter uma vida espiritual, alguém sabe?

Há tempos venho pensando nisso e de forma mais intensa nos últimos dias - o que é espiritualidade, o que é ter uma vida espiritual?
Alguém sabe? Alguém pode me contar?
Consigo perceber alguns elementos de uma vida espiritual, algumas indicações, mas não tenho certeza, não tenho aquela certeza que me dá força, aquela resposta que é tão verdadeira que não deixa mais qualquer espaço para dúvida!
As pessoas que vivem num ashram, num convento, as pessoas que se dedicam apenas a práticas espirituais/religiosas levam uma vida espiritual? Essas pessoas estão vivendo sua espiritualidade?
É preciso abandonar a vida mundana para se ter uma vida espiritual?
É possível passar anos num ashram ou num outro centro qualquer dedicado a Deus e estar muito longe dele? A visão tão próxima de Deus pode ofuscar?
A vida espiritual é empreender um caminho que nos leve a Deus?
Vejo muitas pessoas principalmente falando sobre práticas espirituais. Algumas fazendo pouco, outras fazendo muitas, mas e...?
Será necessário passar o tempo todo rezando, recitando mantras, meditando para se ter uma vida espiritual? E o dharma? E qual é o meu papel? O que Deus quer de mim?
O que vim fazer neste planeta e qual é meu caminho agora?

Lá no ashram encontrei um pôster da Amma em uma parede do "green roof" (o teto verde), onde eu fazia algumas aulas, com uma frase que me marcou:
"Espiritualidade é um sorriso profundo e verdadeiro em todas as situações da vida." - Amma
Pesquisando na Internet, encontrei este texto atribuído ao Boff e ao Dalai Lama:
Do livro: “ESPIRITUALIDADE – Um Caminho de Transformação” de Leonardo Boff

Agora cabe colocar diretamente a pergunta: afinal, o que é espiritualidade? Uma vez fizeram esta pergunta ao Dalai-Lama e ele deu uma resposta extremamente simples: “Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior”.
Não entendendo direito, alguém perguntou novamente:
- Mas se eu praticar a religião e observar as tradições, isso não é espiritualidade?
O Dalai-Lama respondeu:
- Pode ser espiritualidade, mas, se não produzir em você uma transformação, não é espiritualidade. E acrescentou:
- Um cobertor que não aquece deixa de ser cobertor.
Então atalhou a pessoa:
- A espiritualidade muda ou é sempre a mesma coisa?
E o Dalai-Lama falou:
- Como dizem os antigos, os tempos mudam e as pessoas mudam com ele. O que ontem foi espiritualidade hoje não precisa mais ser. O que em geral se chama de espiritualidade é apenas a lembrança de antigos caminhos e métodos religiosos.
E arrematou:
- O manto deve ser cortado para se ajustar aos homens. Não são os homens que devem ser cortados para se ajustar ao manto.
Parece-me que o principal a ser retido desse pequeno diálogo com o Dalai-Lama é que espiritualidade é aquilo que produz dentro de nós uma mudança. O ser humano é um ser de mudanças, pois nunca está pronto, está sempre se fazendo, física, psíquica, social e culturalmente. Mas há mudanças e mudanças. Há mudanças que não transformam nossa estrutura de base. São superficiais e exteriores, ou meramente quantitativas. Mas há mudanças que são interiores. São verdadeiras transformações alquímicas, capazes de dar um novo sentido à vida ou de abrir novos campos de experiência e de profundidade rumo ao próprio coração e ao mistério de todas as coisas. Não raro, é no âmbito da religião que ocorrem tais mudanças. Mas nem sempre. Hoje a singularidade de nosso tempo reside no fato de que a espiritualidade vem sendo descoberta como dimensão profunda do humano, como o momento necessário para o desabrochar pleno de nossa individuação e como espaço da paz no meio dos conflitos e desolações sociais e existenciais.


Não tenho respostas, apenas indagações e algumas indicações para seguir, mas relendo o texto do diálogo acima, meu coração se enche de leveza. Talvez não exista um conceito único de espiritualidade, mas é sempre bom olhar para o que o chamado caminho espiritual está fazendo conosco. Observar o que ele tem provocado. Se permitir mudanças interiores, se levar a um caminho mais feliz, mais coeso, mais amoroso, se aprendermos a amar mais, talvez então este seja o caminho.
Mãe Divina, permita que eu fique sempre em seus braços e mostre-me o caminho!
Jay Ma