Este ashram é um bom lugar e uma boa experiência para testar, refletir
e melhorar em tantos aspectos e um deles para mim é o desapego da morte.
Tenho a certeza de que Amma faz isso intencionalmente para que nós os
ocidentais (e todos aqueles que sofrem de apego a esta vida como eu) percebam a
realidade suprema.
Para dar uma ideia mais clara, há um grande salão com laterais abertas
(chamado de hall) onde Amma dá darshan. De quem olha para o pequeno palco numa
das extremidades, no lado direito deste salão há um caminho (por onde Amma
passa para entrar no hall) e logo depois há o café (lanchonete). Ali também
funciona o restaurante ocidental, aberto quando Amma está aqui no ashram e ali
também estão as mesas usadas pelos ocidentais para comer.
Bem ao lado deste café há uma área que foi recentemente coberta com
piso cerâmico e depois o portão de saída da ala central do ashram e ali, bem ao
lado do café, é feito o ritual de morte. Assim que alguém morre aqui, o pessoal
da estrutura cobre o local com um plástico amarelo e coloca lâmpadas fortes.
Duas mesas são trazidas. Uma contém um altar com lamparina e a outra é
preparada para a colocação do corpo.
Simples assim. A pessoa morre, faz-se um ritual e, logo o corpo é
levado para cremação. Algumas horas depois, não há mais quase vestígio do
corpo.
Desde que cheguei aqui já ocorreram duas mortes e minha amiga francesa
me contou que no mês de agosto três outras pessoas idosas já haviam morrido. Na
primeira Amma estava fisicamente aqui. Ela interrompeu o darshan e fez uma
pequena cerimônia cantando Om namaha shivaya e depois amarrou um pano sobre a
cabeça do filho mais velho e colocou um coco sobre a cabeça dele e os amigos
carregaram o corpo da mãe para a cremação.
Ontem mais uma morte. Não sei quem era, pois só vi quando estava a
caminho do meu seva na lanchonete. Mas havia muitas pessoas e quando cheguei ao
café o local para o ritual já estava preparado.
Tinha que voltar ao quarto logo depois do meu seva e não pude ficar
para acompanhar o ritual até o local de cremação, mas não pude deixar de
refletir sobre o simbolismos dessa morte e agradecer a Deus esta oportunidade
de trabalhar este aspecto da minha consciência.
Simples assim, algumas horas depois que o prana deixa de habitar o corpo,
já não há mais corpo. Portanto, o que estamos fazendo com a nossa vida?
Aprendi, quando estive aqui pela primeira vez em 2010, que os indianos
desejam ser cremados o mais rapidamente possível para se liberarem o mais
rapidamente possível. Dizem que é um sofrimento ficar ali preso ao corpo físico
esperando que ele se deteriore.
Também aprendi que é preciso estar muito preparado para este momento,
pois saímos por um dos orifícios do corpo e devemos estar preparados para sair
por um orifício superior para nos ajudar a liberar e evoluir. (Seria por isso
que tantas pessoas evacuam e fazer xixi quando morrem - elas saem pelos
orifícios inferiores). O ideal mesmo é ter consciência plena dos chakras e sair
pelo chakra coroa, mas isso já é outra história...
Também a literatura védica tem vários exemplos da importância do último
pensamento e dos apegos criados e mantidos. É bastante conhecida a história do
rei que foi viver em reclusão nas montanhas, abandonando tudo e nos seus
últimos dias apaixonou-se por uma pequena gazela que viu tomando água em um
lago. Sua mente fixou-se na gazela de tal modo que ele precisou ter duas vidas
como gazela para poder se liberar.
Assim, como não acredito que seja possível aprender tudo isso penas alguns
minutos antes de morrer, acho que é melhor praticarmos o tempo todo.
Primeiro admitindo sempre e constantemente que somos mortais e finitos
e que a morte é certa e faz parte do processo de vida. Segundo, refletindo
sobre o que somos e onde está nossa essência. Estará apenas no corpo que é
destruído em tão poucas horas? Em terceiro lugar examinando profundamente
nossos apegos.
Acima de todas estas questões, há também o pensamento e o coração
constantemente em Deus e no Guru que é o que nos conduz em todos os momentos.
Aqui posso ver tantos comportamentos meus que revelam apegos - apegos
aos meus filhos (como se não fosse inevitável que um dia eu parta), apego ao
sofrimento do passado (que me impede de crescer mais rapidamente), apego às
minhas doenças (afinal elas têm me servido há tanto tempo) e resistência à
entrega.
Finalmente, ontem, ao viver esta experiência, pedi à Amma que eu tenha
a bênção de ser acolhida e amparada por Ela no momento da minha morte, assim
como me sinto acolhida e amparada em todos os momentos! Que todos tenhamos a
graça de Deus no acolhimento.
Bem, falei de mim. E você? Como trata esses assuntos tão fundamentais?
Anda esquecendo e achando que há outros assuntos mais importantes?
Sim! eu ando esquecendo...
ResponderExcluirYara, sabe que no dia seguinte após este funeral eu fui trabalhar lá no café e senti "falta" da luz que tem quando alguém morre.... Achei incrível isso....hehehe
ResponderExcluirTem mais festa (em termos do reflexo e da luz usada) quando alguém morre do que no dia-a-dia das refeições