segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O seva ou o trabalho voluntário

Fico muito feliz em ver que algumas pessoas lêem o que escrevo, esperam novidades e queria dizer, mesmo parecendo repetitiva, que nada do que eu possa escrever aqui descreve a intensidade de estar  em Amritapuri. Outro dia uma residente antiga nos contou que a Amma disse que este lugar é tão poderoso que mesmo sem fazer sadhanas (práticas espirituais) e sem qualquer consciência, o simples fato de se estar aqui nos ajuda a progredir. Várias vezes já comentamos que parece que estamos aqui há meses. Mal consigo definir os dias da semana. Às vezes o tempo se arrasta, minutos depois parece estar passando muito rápido, rápido demais. Quando a gente parece querer se ajeitar, codificar, controlar, lá vem a Amma e muda tudo. Tudo muda mesmo. Por exemplo, se o dono do quarto em que estamos chegar, teremos que nos mudar daqui! Assim, de uma hora para outra, exatamente agora que já estamos acostumados, que tudo já está limpinho e nos trinques (padrão brasileiro). Só faltou mesmo varrer as paredes e consertá-las, pois até agora não consegui ninguém.
Hoje fiquei meditando sobre o que falar, já que é segunda-feira, dia um pouco morno no mundo todo. Aqui também fica uma sensação mais de quietude, pois não há pessoas de fora como no final de semana, as jovens e os jovens estudantes estão mais concentrados e quietos em suas aulas. A agitação das milhares de pessoas ficou para trás e hoje não tem darshan;  temos apenas bhajans à noite e estamos rezando para a Amma vir cantar!
Então, como segunda-feira é dia de trabalho (mesmo que aí seja feriadão), vou falar do nosso seva. Há algum tempo atrás tinha falado com a Yara sobre o ashram e ela tinha me falado sobre o novo seva de lavar a louça de forma controlada e organizada. Bem, claro que acabamos caindo no setor de lavagem de louça. Lavamos louça, Mônica e eu, na cozinha ocidental, ao lado da padaria/confeitaria todos os dias das 11 à 01 da tarde. No primeiro dia logo vi o que a Yara tinha falado. A economia de água chega ao extremo. Quanta dificuldade para nosso padrão brasileiro de esbanjar água sem qualquer consciência. Aqui há conscientização sobre tudo. Por exemplo, nos elevadores cabem 5 pessoas e ficamos esperando até ter a lotação máxima para partir.
Mas voltando ao nosso seva, claro que caímos lá ou pelo menos eu caí lá para aprender. Aprender o quê? Um monte de coisas. Economizar os recursos, aceitar as coisas simplesmente como são, aprender a confiar, entregar cada vez mais minha vida ao guru.
Antes de começar nossa tarefa tivemos uma aula completa e exaustiva com a supervisora do setor de lavagem que falou muito sobre economia, sobre organização e sobre limpeza e prevenção de bactérias. Eu juro que entendi (e Mônica também) que ela disse que era para colocar uma tampinha de um desinfetante ecológico que eles chamam de e.m. na última água.
Ah, então, antes de contar o seva, vou explicar como se lava a louça aqui em Amritapuri. Uma pessoa limpa os pratos sujos, retirando toda a sujeira possível e distribui a sujeira em: composto, água suja, papel usado e não reciclado, plástico, etc...
A segunda pessoa faz a pré-lavagem. Passa a louça numa água e usando uma esponjinha de aço retira a sujeira. Daí se passa a louça para uma segunda bacia que tem um pouco de detergente, onde ela é lavada novamente. A louça passa então para uma terceira bacia onde é exaguada e é colocada no escorredor. Este processo de lavagem e enxágüe é feito por uma terceira pessoa. Uma quarta pessoa enxuga tudo e guarda nos locais indicados. Este mesmo processo é feito para lavar a louça das pessoas que comem, com uma pequena diferença. Então, eu como, levo meu prato para o local de lavagem, entrego para uma moça e vou até o final do processo, retiro outro prato já lavado e levo para secar. Os panos de prato também passam por um processo econômico especial, mas aí é muito complicado.
Voltando ao primeiro dia, queríamos morrer. Mônica ficava reclamando o tempo todo da sujeira e nós, de forma pretensiosa, compramos esponjas novas para “doar”. Chegamos lá e fomos logo pedindo e reclamando, queremos EM. Acabaram perdendo a paciência comigo, pois só eu falo e parece que o procedimento do EM já foi abolido!
Estas bacias com água são trocadas apenas uma vez a cada duas horas, ou seja, a cada troca de turno. Apenas a água mais suja, a da pré-lavagem, é eliminada. A da segunda bacia passa para a primeira, a da terceira passa para a segunda e só se põe água limpa na terceira bacia. A cada 15 minutos a gente fica querendo trocar a água até porque aqui também se usa um sabão em pó feito cinza que escurece a água e que dá uma aparência horrível para tudo.
Ninguém fica doente, tudo caminha bem. A economia é enorme! O planeta, meus netos e descendentes agradecem!
Hoje foi o terceiro dia que fiz seva lá na cozinha e foi meu último dia! O seva correu super bem. Logo pensei: é sempre assim, quando ficamos em harmonia, lá vai a Amma e nos muda para uma nova aprendizagem.
Amanhã, terça-feira, todo mundo medita de manhã no templo com a Amma e depois ela dá o prassad, o almoço para todo mundo! Os sevas recomeçam apenas depois das 14 horas então, não teremos que lavar louça amanhã de manhã. A partir de 4ª-feira vou fazer um curso prático vivencial do Bhagavad Gita neste mesmo horário e tive que mudar de seva. Mônica vai continuar lá, já está mais acostumada. Apenas algumas bacias continuam caindo na cabeça dela, ela continua reclamando um pouquinho, mas está mestre no pedaço.
Ganhei um outro seva que espero conseguir fazer. Vou varrer à moda indiana o caminho por onde passa a Amma, duas vezes por dia. Luiz ficou dizendo que isso não é seva, é presente e eu concordo! Mas sei que também não será fácil,  pois vai exigir um esforço corporal intenso. As pessoas aqui varrem o chão de uma forma totalmente diferente e bem abaixadas. Minhas costas é que vão falar depois.
Ah, para quem se interessar, hoje voltei para a loteria da consulta da astrologia. E aí?..... tirei...... Número 1!!!!! Fiquei super feliz. Hoje o número de candidatos era maior do que ontem e, mesmo assim, Amma me deu este presente!
Agora vou terminar minhas traduções e vou meditar um pouco na praia.
Tô com saudades!!!!

4 comentários:

  1. Om Namah Shivaya!
    Incrível a velocidade dos aprendizados... Jay Ma! Nada de acomodação e revisão de sentimentos e ensinamentos sempre. Também estou com saudade, Anugraha e razando para a Mãe por vc. Para que tenha força de continuar, persistência para vencer as vasanas e muita Luz no seu caminho.
    Estou junto com vc...
    Bjs no coração!

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  2. Maria!!!!! ISSO NÃO É SEVA NÃO!!!!! Isso é privilégio e suas costas nem vão doer, rsrsrsrsrs.Que incrível tudo o que você está descrevendo. Muito diferente mesmo! Bem simbólico este novo seva , hein? Limpar, tirar as impurezas para que o Guru possa passar, entrar. Limpa bem , limpa tudinho, agachada, de quatro, com ou sem dor... rsrsrsrsr. Bjos Bjs bjs. Saudades.

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  3. ONS! Tambem meu primeiro seva no ashram foi lavar louca e eu fiquei maravilhada com o processo das bacias e a economia de agua! Absorva tudo o que puder ai, e pra combater a dor nas costas (que vai rolar) pois essas vassourinhas de palha dai sao muito baixinhas, faz uma massagem lomi lomi com a Ambujam, ou alguma outra que tem varias tecnicas disponiveis ai, e dificil de marcar hora, voce tem que ir la aonde se faz as massagens e por seu nome num papel aonde encontrar dia e hora disponivel. E concorrido, mas muito bom. Chega cedo no Templo na terca, pra arrumar um lugar legal, e muito legal esse contacto no Templo com a Amma, super especial mesmo. Aproveita e ja que nao podemos estar presentes nos resta a alegria de saber que voce vai compartilhar tudinho com a gente! Beijos.

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  4. Om Namah Shivaya!!! Uauuu que bênção!!! Então, varre varre varre vassourinha e vai varrer as ruas da querida Amma!!! Hehehehehehe...Quando chegar eu lhe faço uma massagem!!! Que felicidade, parece que eu estou ai com vocês!!! Me sinto tão perto...Cheguei até sonhar que estavamos juntos, eu, você, o Luiz e a Mônica...Estavamos andando por uma estrada de terra e um montão de indianos passavam pela gente indo em direção ao templo!!! Lembro que alguem havia me oferecido carne vermelha e eu dizia que há dez anos que não comia...rsrsrsrssss...Brigadão pelos momentos maravilhosos que tem nos proporcionado!!! Bjão em todos!!! Om Amriteswaryai Namaha

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